segunda-feira

Pensamentos conspiram

19:37 Já havia estudado bastante. O suficiente para ficar com vontade de comer uma baguete inteira! Por que não? A padaria ainda deve estar aberta. Troquei de roupa num instante, era a primeira vez que saía sem casaco, o inverno enfim me dava trégua.

19:45 Fecho a porta do apartamento, como de costume estava esquecendo a luz da cozinha acesa, volto, apago a luz, fecho a porta e chamo o elevador. O elevador não vem, olho para cima e vejo em letras miudas: "Fora de serviço". Por mais estranho que possa parecer a primeira coisa que veio à minha cabeça foi que alguém queria me matar.

19:47 Abro a porta para sair pela escada, tento acender a luz, ela não funciona. Estava me preparando para o meu destino, era inevitável, estava claro: morreria em alguns instantes.

19: 48 Desço a escada com receio, começava a perder o respeito por mim mesmo. Tinha medo do desconhecido. Chego ao térreo e tenho meu primeiro alívio: a luz volta a funcionar. Ainda tinha o celular mão, abro a porta com calma já não mais acreditando em meus anteriores devaneios.

Ah! O celular cai e parte em três pedaços. Lá estava ele, meu destino. Vestia preto e usava uma toca que escondia só o cabelo, acendeu a luz do Hall e me disse boa noite. Abriu a porta e me deu um sorriso, sabia que eu estava com medo, ele tinha o controle da situação.

19:53 Volto da padaria com um plano em mente. Era simples, eu fingiria que não sabia o que estava acontecendo, puxava um papo com ele, marcava bem sua figura e não subiria para o meu apartamento. Eu não poderia subir, meu colega de quarto ainda não havia chegado de Londres e eu não queria uma morte sem testemunhas. Se eu tivesse que morrer teria que ser ali, na luz apagada do térreo, em frente ao elevador fora de serviço.

19:54 Abro a porta do prédio, a luz do hall estava acesa, mas não habia ninguém lá. Tento em vão chamar o elevador, perco mais uma vez respeito por mim mesmo, estava com mais medo do que nunca. Subo as escadas com o coração na boca, morreria de infarto antes que alguém me matasse.

19:55 Entro em meu apartamento, verifico com cuidado cada cômodo, eu estava sozinho. Sentei, comi calmamente dois pedaços de baguete. Em seguida sento em frente ao computador, uma amiga disse que havia tentado me ligar, mas que meu telefone estava desligado. Claro, depois da queda eu havia me esquecido completamente. Ela estava me convidando para comer em sua casa. Por que não? Eu precisava ver gente.

20:15 Saio de casa. Fecho a porta, dessa vez tomo o rumo das escadas de uma vez. Estava sobrando coragem, vinda não sei daonde. O Hall estava mais uma vez vazio, caminhei até o metro, a história começava a me parecer absurda.

20:25 Um grupo de homens conversava do outro lado do vagão, não conseguia entende-los, mas falavam árabe certamente. Eram quatro, mas dois me chamavam mais atenção: o que falava ao celular era cego de um olho; e que permanecia calado tinha uma grande cicatriz no rosto, era um risco bem abaixo do olho direito. Eles falavam de mim, eu estava certo. O homem da cicatriz me olhava de vez em quando, dava para perceber pelo reflexo da janela; o que falava ao celular não parava de olhar para mim. Era um complô, eu tinha uma segunda chance de morrer.

20:32 Desço do vagão, o grupo de homens também. Eu vou para uma direção, eles para outra. Olho para frente tentando ignora-los, controlo-me por 5 segundos, mas não resisto e olho para trás, eles não estavam mais lá. Saio do metro, a rua estava mal iluminada, mas encontro facilmente o prédio onde estava minha amiga. Chego, como pastéis deliciosos, bato um papo, conto a minha história e ela parecia de fato absurda, fruto de uma imaginação fértil.

23:00 Volto para casa. Uma outra amiga me acompanha no metro, falamos de política, falamos dos amigos. Desço primeiro, estava louco para chegar em casa, tinha sono.

23:03 Na saída do metro volto a ter certeza do meu fim. Era simples bastava ler os signos. A minha esquerda havia um par de sandálias abandonado, eles estavam juntos, como se seu dono os tivesse colocado ao lado da cama antes de deitar. Em seguida havia três cartazes do mesmo cantor que olhava e apontava para frente. Mas o que ele apontava? Mas que ridículo. Era o cartaz da Vietnam Air Lines com um pênis desenhado no meio do céu azuk. Isso não significava nada. Ou significava? Saí do metro com a sensação de estar sendo seguido, estava com medo, agora não sabia mais do que.

23:10 Chego em casa. Antes de abrir cada porta acendo a luz. Verifico se estou sozinho. Ligo o computador e começo a escrever este texto. Ainda tenho dúvidas sobre o que é real nessa história e sobre o que minha mente conseguiu criar. Pensamento conspiram.

1 Comments:

Blogger Barrão said...

esquizofrenia e capitalismo

11:05 PM  

Postar um comentário

<< Home