sexta-feira

Você viu ele morto? Sei lá...

Resumé: O texto começa com uma indagação sobre o "sei lá", uma pequena reflexão introdutória para chegar ao tema central da discussão, a força da imagem do enforcamento de Saddam Hussein. Uma viagem bem esquisita, onde foram destacadas possibilidades e questões no mínimo bizarras. O texto é bem estranho e no final das contas não quer dizer muita coisa. É uma discussão irresponsável, completamente dissociada do universo acadêmico como um todo. Especula sobre situações improváveis e imagens ainda inexistentes. Mas é divertido e acho que lido com calma pode dar bastante discussão.

Sei lá. Talvez eu não saiba nada mesmo e estes dois monossílabos só sejam uma tentativa do meu inconsciente de deixar isso bem claro para mim mesmo. Não sei não... mas essa possibilidade faria todo o sentido. Afinal quando eu paro pra pensar na maioria das vezes não sei nem em que estou pensando. Está bem... No mínimo bizarras essas primeiras linhas, mas é que quando você se encontra na minha situação, em eu se está diante de um dilema, um caminho sem volta, uma verdadeira divisão de águas, se me permitem o exagero, a coisa começa ficar bizarra e até em Psicologia começo a acreditar. Continua esquisito. E efetivamente foi esquisito... Eu estava tranqüilo, fazendo uso indiscriminado desta pequena expressão “bimonossilábica” até o fatídico dia de hoje, em que parei pra pensar no “sei lá”.

“Puta idéia idiota meu!” ,diriam alguns. “Pura perda de tempo”, diriam outros, aos quais eu mesmo me incluiria 24 horas atrás. Para que pensar no “sei lá”? “Sei lá” deve ter sido sua primeira resposta e se não foi é porque estas linhas começaram a te interessar... Mas que é bizarro é! No meio de minhas férias superlotadas de “sei lás”, essa questão resolve me aparecer assim, de uma vez, só pra rolar mais uma crise. Mas já que eu comecei, só escrevendo vou me livrar disso.

O último “sei lá” que eu disse antes da crise, ou pelo menos o último que me lembro, foi quando minha mãe perguntou se eu havia apagado a luz da garagem antes de subir as escadas. Simples, fácil, saiu naturalmente, assim como todos os anteriores. No entanto, o “sei lá” que respondi a minha irmã, pouco antes de ir tomar café, quando ela perguntou “qualquer coisa” sobre o Saddam Hussein, causou pane total. Eu sabia responder a pergunta dela, mesmo assim lasquei logo um agudo “sei lá”. Por que? Pooooor que? “ Que crise mais idiota” pensei logo em seguida, pelo que eu me lembrava, eu nem falava tantos “sei lás” assim... Mas os exemplos começaram a aparecer na minha cabeça, era um filme baseado na narrativa criada pela minha cruel memória. Eram tantas situações, tantas, algumas até que o meu “sei lá” havia se tornado até numa resposta sistemática. Estava perdido, era refém da minha própria consciência. Maldita pergunta responsável pela morte de mais alguns neurônios saudáveis e pelo embranquecimento precoce de mais alguns fios. O Saddam Hussein já tinha acabado com a vida de tanta gente, de repente depois de morto, conseguiu “fuder” com a minha. Imbecil! Pensei em assistir o vídeo da sua execução, ter certeza através da evidência do “morto pendurado” me traria novamente um pingo de ilusão capaz de se espalhar e acabar com toda essa baboseira. Infelizmente isso só piorou as coisas.

Procurei o vídeo no Youtube, tive que fazer login como usuário porque o vídeo era restrito a menores de 18 anos. Foi aí que os problemas aumentaram... Quem teria feito o vídeo? Com qual propósito? Essas perguntas que só interessavam a mim e aos investigadores, de modo diferente é claro, já que eles pretendem prende-lo, rondavam minha cabeça. Sem a identidade revelada do oportuno indivíduo pouco se pode especular sobre suas intenções. É o impacto dessa imagem que começou a me indagar, o seu poder. Estava bastante claro para mim que uma coisa era saber da morte de Saddam, em linhas preto e brancas que expressavam a linha editorial de um jornal, outra era assistir o famoso vídeo. Existiriam, obviamente, no caso de não existir o vídeo, manifestações por parte de seus seguidores, algumas atitudes extremadas, mas tudo isso faria parte do protocolo. Mas imerso na crise do “sei lá” ,precisava da imagem, ansiava pela certeza que ele me traria. Eu que há tanto luto contra o conceito fatídico da imagem como a expressão limpa do “real”, dependia dessa dose de “realidade” a todo custo. Irônico isso. Seria mais se a imagem tivesse me confortado e parasse de me perturbar, mas isso não aconteceu.

Acredito que se a intenção do vídeo era humilhar Saddam Hussein, mostrando para todo mundo a melancólica morte de um líder deposto, ela foi frustrada pelos acontecimentos que se sucederam. O vídeo causou revolta até em algumas pessoas que odiavam Saddam Hussein, inclusive algumas estadunidenses ficaram fragilidades com a força que aquelas imagens tinham. Em outros o que se criou foi um sentimento de admiração por um homem que a beira da morte não abaixava a cabeça, quase o tornando o mártir da “Guerra do Petróleo” empreendida pelos estadunidenses. A força daquelas imagens somada a memória coletiva de cada povo que as recepcionava ou até nas mãos de uma mídia forte o bastante para controlar a opinião pública, é quase impossível de ser medida. Mídia. Mídias... Acabei me lembrando de veículos reconhecidos, não me simpatizando por nenhum, resolvi tentar minha sorte com o Oráculo (Google), e para minha surpresa, se você digitar “saddam hussein” no Google ou em qualquer site de busca mais conhecido, as imagens do enforcamento não vão aparecer. Teoria conspiratória? A maioria dos links que vão aparecer são sites com textos pejorativos, outros com algumas brincadeiras, até alguns falando de sua morte, mas aonde estava a imagem da “corda no pescoço”? Censura? Reconhecimento do poder que aquela imagem tinha, medo de ela se tornar algo fora de controle, medo dela ganhar vida própria e o feitiço virar contra o feiticeiro? Não me arrisco a responder...

Se quem fez as imagens tivesse querendo apenas ganhar um dinheiro com aquelas imagens, ele teria reconhecido seu valor, não teria noção do seu impacto. Talvez alguém por trás de quem fez as imagens reconhecesse, afinal quem garante que ele agiu sozinho? Como ele havia passado com aquele celular pela segurança? Por que se arriscaria tanto se não tivesse tanta certeza de que seria possível? Nessa viagem de possibilidades, o “sei lá” seria a resposta da maioria das perguntas.

É possível que alguém tivesse idéia da dimensão do poder dessa imagem, a divulgação posterior do seu conteúdo venha a dialogar diretamente com um interesse político concreto. Mas mesmo reconhecendo esta como uma possibilidade bem plausível, ainda duvido que alguém fosse possível de prever seu impacto. As imagens do enforcamento são capazes de ainda fazer vibrar muitas pessoas, os que não haviam sentido pena, agora ficam apreensivos, com medo dos defensores mais ousados e agora mais inflamados, que saem as ruas com camisas do ex-ditador o aclamando como herói. Ela efetivamente ganhou proporções inimagináveis, podendo deixar de ser notícia de ontem para se tornar notícia de amanhã, afinal os ânimos estão agitados e Saddam Hussein pode acabar não sendo o único ditador enforcado nessa história. E talvez a próxima imagem que choque o mundo pode ser esta...
Bem improvável, não é mesmo
"...os que os olhos não veêm o corno não sente." Vovó

Porque cargas d´água fui responder “sei lá” para minha irmã aquela hora!Deu nisso... Peço desculpas....

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sempre pensei no "sei lá" como uma expressão sagrada, um certo grito de liberdade. É como um reconhecimento de que o mundo tem muitas coisas das quais nós sabemos muito pouco. Se é que sabemos. Se é que deveríamos saber. A possibilidade de poder falar "sei lá" é mágica!
Quanto à morte do Saddam, já dizia Seu Madruga: "A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena". Que o cara era um filho da puta, pode até ser, mas será que era necessário agir como ele para puní-lo? Sei lá!
"Cargas d'água", expressão bonitinha.

1:16 AM  
Blogger Barrão said...

"Que cousa gozada!"
Caramba! Bonita reflexão sobre o "sei lá". Chego a quase entender o porque de você ter caminhado para o assunto das imagens!
jajajajajaja
Depois de ler alguns parágrafos, percebi que às vezes falo o famoso "sei lá" até quando relativamente "sei" dialogar.
Merde!
Coincidência ou eu te copiei ao falar de Saddam?
Sei lá!

10:47 AM  
Blogger mauro F said...

Sei lá sobre a sua montagem...
mas sobre o texto sei, lá!
Olha,
qual é o barato de matar um ex-ditador?
O bom mesmo é fazer o serviço sujo enquanto ele está lá em cima!
Ninguém quis entrar junto com ele pra História... porque o carrasco nunca entra...

7:15 PM  

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